Tuesday, March 25, 2025
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Apagão digital global mostra a interdependência da tecnologia

As vésperas da chegada de atletas para as Olímpiadas de Paris24 o mundo foi surpreendido com uma pane tecnológica que afetou o sistema de funcionamento de instituições financeiras, hospitais, aeroportos e serviços de comunicação globalmente. A suspeita inicial era de um ciberataque provocado por hackers.

Em verdade, a anomalia foi provocada por conta de uma atualização defeituosa de um software, de uma empresa americana chamada Crowdstrike. O erro afetou os usuários do sistema Windows da Microsoft que utilizavam o programa Falcon da empresa. Tal programa é usado em larga escala por grandes empresas a fim de proteger a navegação na internet, pois, faz varreduras para detectar e impedir invasões de vírus, ações maliciosas – malwares – e hackers, e a suspeita de movimentos do próprio Windows – versão para empresas – ocasionou a pane mundial, já que os computadores que fizeram a atualização entraram em modo de erro e travaram.

O medo de ciberataques evidenciou duas consequências: a interconectividade do sistema globalmente e a possibilidade de um ataque cibernético real que pode produzir danos em escalas imensuráveis. Assim, em um apagão histórico, se evidencia o risco de concentrar a proteção de dados e sistemas em poucas empresas e programas e as consequências de uma invasão em uma dessas empresas o que pode produzir. Parece paradoxal, afinal, essas companhias existem para prevenir essas ações, todavia, não é inédito e, tampouco, improvável de ocorrer.

O problema, medo e insegurança são trazidos por um inimigo invisível que opera silenciosamente dentro da internet, porém, em camadas inferiores, protegidas e de difícil detecção, falamos da Deepweb e, principalmente, da Darkweb. 96% da internet é compreendida entre a Darkweb e a Deepweb.

Segundo dados da Comparitech, anualmente 88,5 milhões de pessoas são vítimas de cibercrimes. Nesse cenário, a Darkweb apresenta seu cartão de visitas. Um local oculto e de entrada exclusiva com convite para acesso específico, protegido dentro do universo da Deepweb, local em que somente quem possui conhecimento mais avançado de informática consegue trafegar digitalmente através de navegadores específicos como I2P, Tor, Freenet e outros poucos. O caminho e as possibilidades de esconder seu endereço IP protegem as atividades ilícitas da Darkweb que, segundo a Interpol, superam 57% do total das práticas desse universo.

É fato que vivemos em uma infraestrutura digital interconectada e poucas empresas possuem tecnologia avançada o suficiente para proteger sistemas globais. No entanto, o inimigo invisível que se mascara através de vários IPs falsos tem o elemento surpresa a seu favor. Não por acaso a suspeita da pane estava atrelada a um ataque e não a uma falha.

Aliás, a própria empresa alerta para o risco de malwares em sua página: “um agente malicioso leva apenas 62 minutos para destruir o seu negócio”. Parece irônico após o acontecido, não é mesmo?

Os países têm se modernizado, atualizado e se interconectado. O Brasil ainda engatinha em proteção digital. Não por acaso, é o quinto mais atacado ciberneticamente no mundo. Somente em 2023, segundo dados do novo Panorama de Ameaças da Kapersky, o país sofreu 1,2 milhão de ataques em dispositivos móveis.

O elevado custo inibe investimentos maciços na área de segurança digital. A empresa em questão tem preços maiores que seus concorrentes nacionais, então, o mercado brasileiro não é um grande cliente, por isso foi pouco afetado. Porém, não significa que os brasileiros e as grandes empresas estejam protegidos, afinal, há uma defasagem nesse setor. Inclusive a Crowstrike alerta que identificou criminosos invadindo computadores através de um arquivo “disfarçado” de reparo do sistema Falcon, o que pode resultar em consequências para a América Latina e, especialmente, o Brasil.

Ao fazer o download e abrir o malware, esse libera um vírus que controla por completo o computador infectado. Com isso, é importante que os usuários caseiros se protejam, reforcem sua segurança, uma vez que o cenário nacional não é alentador.

Se o criminoso está protegido, não se pode dizer o mesmo do usuário comum da internet: IP sem proteção, firewall de fácil acesso, computador com dados pessoais, senhas, páginas recorrentes com dados salvos e, para muitos, com dados bancários armazenados em páginas de compras usuais, as mesmas fragilidades podem ser percebidas em seus tablets e celulares. Praticamente um convite à ilicitude. E, para muitos, esse acesso involuntário e inconsciente, gera consequências desastrosas, representada por problemas econômicos, familiares e até nas relações de trabalho. Só em 2024 foram mais de 60 milhões de ataques cibernéticos.

Seus dados podem ser hackeados, seu dinheiro desviado, compras efetuadas em seus cartões de crédito com dívidas, inclusive parceladas, vazamento de informações sigilosas ou não, e-mails de trabalho são apenas algumas das possibilidades que os frequentadores da Darkweb conseguem impingir aos usuários desavisados, desatentos e desprotegidos.

Proteja-se os crimes digitais não escolhem usuários, dados ou valores!

Não abra qualquer e-mail com alerta de atualizações, “intimações”, “autos de infração”, correções digitais, alertas de compras em seu nome e demais golpes que induzem o consumidor individual, empresas e corporações. A depender da fragilidade de sua proteção no computador os estragos podem ser profundos com danos econômicos potencialmente elevados.

Antonio Gonçalves é advogado criminalista. Pós-doutor em Desafios em la post modernidad para los Derechos Humanos y los Derechos Fundamentales pela Universidade de Santiago de Compostela, Pós-Doutor em Ciência da Religião pela PUC/SP, Pós-Doutor em Ciências Jurídicas pela Universidade de La Matanza. Doutor e Mestre em Filosofia do Direito pela PUC/SP, MBA em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.

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